segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dia 20, na Praça da Liberdade









Em 20 de fevereiro, último sábado, nos encontramos na Praça da Liberdade para dançar. Partimos de duas propostas: uma para o espaço, outra para o movimento. A proposta para o espaço foi sugerida por mim, e se tratava de explorarmos os "lugares improváveis". Os espaços públicos que exploramos são já lugares improváveis para nossa atividade, e procuramos, neste encontro, ocupar os lugares de passagem entre os jardins daquela praça em que os transeuntes costumeiramente não passam. Para o movimento, a proposta partiu do Clécio, que sugeriu trabalharmos os apoios e encaixes e o contato-improvisação, de onde nosso trabalho partiu em 2009. A intenção era também nos darmos segurança, uma vez que houve grande intervalo (fim de dezembro e início de janeiro) em encontros do Em Obras. Nossa intervenção durou cerca de uma hora e trabalhamos em duplas e trios, às vezes todo o grupo (éramos sete naquele dia). O grupo observou harmonia nos movimentos. Apesar do tempo distantes, parece não termos nos afastado na pesquisa. Entretanto, a Joyce observou que nos falta, em alguns momentos, sintonia e coragem para ousar, e, creio, se lançar no não-lugar, ou na não-permanência em tranquilidade. Isso, penso ainda, tem influência nos movimentos e no espaço, propriamente, pois delimitamos um quase quadrado cortado por corredores, onde nos fixamos como um lugar seguro, conhecido. Questões foram colocadas sobre o espaço-palco, sobre o que seria manter a proposta do dia, sobre desconstrução do corpo e do espaço e deslocamento. Pareceu-nos positivo usarmos o contato para transportar o corpo do outro, o que nos trouxe, ainda, a questão do esbarrar: o que se torna dança? Terminamos muito harmônicos, quanto ao movimento, ao som provocado e produzido, ao momento de aumentar e ao de parar. Acredito que recomeçamos e continuamos bem, num bom caminho para pensar e pesquisar.

Lenise Moraes
Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2010

Termos interessantes para o pensamento acerca de nossa atividade

in.ter.ven.ção sf. 1. Ato de intervir; interferência. 2. Operação (2). 3. Bras. Interferência do poder central em qualquer unidade da Federação. [Pl.: -ções.]

in.ter.vir v.t.i. 1. Tomar parte voluntariamente; meter-se de permeio; ingerir-se, interferir: "Sofia não interveio... na conversa" (Machado de Assis, Quincas Borba). 2. Interpor sua autoridade, ou bons ofícios, ou diligência. Int. 3. Sobrevir. 4. Intervir (1). [Conjug.: 36 [inter]vir] § in.ter.ve.ni.en.te adj2g.

so.bre.vir v.int. 1. Vir ou ocorrer em seguida ou depois. 2. Acontecer de maneira inesperada. T.i. 3. Sobrevir (1). [Conjug.: 36 [sobre]vir]

in.ter.fe.rir v.t.i. Ter participação, ou poder de decisão, ou meios para alterar ou modificar, intervir (1): "Sem liberdade de imprensa... a população... fica desinformada e sem a capacidade de interferir no seu próprio destino." (Carlos Minc, Ecologia e Cidadania). [Conjug.: 48 [interf]e[r]ir] § in.ter.fe.ren.te adj2g.

ur.ba.no adj. 1. Da, ou relativo à cidade. 2. Que tem características de cidade. [Opõe-se, nessas acepç., a rural.] 3. Cortês, civilizado. [Antôn., nesta acepç.: descortês, grosseiro.]

pai.sa.gem sf. 1. Espaço de terreno que se abrange num lance de vista. 2. Pintura, gravura ou desenho que representa uma paisagem. [Pl.: -gens.]

de.se.nho sm. 1. Representação de formas sobre uma superfície, por meio de linhas, pontos e manchas. 2. A arte e a técnica de representar, com lápis, pincel, etc., um tema real ou imaginário, expressando a forma. 3. Forma, feitio, configuração. 4. Traçado, projeto.


Ingerir-se é introduzir-se (pela boca?), intrometer-se. Introduzir é sempre à força (que força?)? Intrometer-se é meter-se dentro/entre, tomar parte. Se tomo parte acrescento algo em mim ou me acrescento em algo, ou as duas coisas?
Meter-se de permeio, no meio, de mistura, neste ínterim. Ínterim é entrementes, entretanto, entre. Estado interino (durante o impedimento de alguém). Ou o tempo todo? Quanto posso me meter dentro? Permaneço ou a condição de estar entre é temporária? Quanto dura uma mistura, que tipo de mistura é a que queremos provocar? Queremos?
Participar, alterar (por quanto tempo?), modificar. Quase sempre estes termos parecem referir-se ao durável. Entretanto, participar pode dividir e misturar partes, e parece efêmero.
Viemos depois de quê? Ou viemos antes? Esperam por nós? Quem? A quem pretendemos dizer (pela boca?) algo? Nossa ação é mais eficiente se somos inesperados? Que eficiência é essa?
Enquanto agimos (agimos?) somos corteses, civilizados? Indivíduo ou grupo ou sociedade (grupo maior)? É urbano porque é na cidade ou porque é civilizado? Talvez nenhum dos dois. Talvez mais civilizado que outras coisas (ações?) reconhecidas pela maioria (ou introduzidas pela minoria) como civilizadas.
Se produzimos algo, esse objeto pode ser abarcado num lance de vista? Nossa paisagem é visual em que sentido? Físico, espiritual, emocional, racional? Essa paisagem é imediata ou é mediada, ou media algo? Permanece ou é instantânea? De quantos instantes ela é feita? Somos forma, em que superfície? Permanecemos? O que traçamos, quem nos traça? Somos linha, ponto ou mancha? Ou nada? Ou tudo? Somos o instrumento ou o instrumento produzido pelo instrumento? Somos capazes de produzir algo? Capazes? Forma, traçado, projeto. Configuração! Reais ou imaginários, é possível transcender os sentidos dessas expressões?

Lenise Moraes
Belo Horizonte, 07 de fevereiro de 2010

Referência
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 5ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. P. 240, 426, 428, 543, 681, 736.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Próximo encontro!

Sábado, 20/02, às 10 da matina, coletivo em obras na Praça da Liberdade!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

COLETIVO EM OBRAS

"Em obras" é um coletivo de pessoas que tem em comum o interesse pela dança e improvisação nas paisagens urbanas. Fundado em 2009, o coletivo se reúne quinzenalmente em praças públicas de Belo Horizonte para exercitar a improvisação e ocupar de maneira diferente da habitual, esses espaços públicos.
DESENHO DE ANGÉLICA BEATRIZ


"A arte é feita de reuniões arriscadas, caóticas de signos e de formas. Hoje os artistas começam a criar os espaços em cujo interior o encontro pode acontecer. A Arte atual não apresenta mais o resultado de um trabalho, ela é o trabalho em si ou o trabalho futuro."
Nicolas Bourriaud